Várias pessoas me olhavam, naquela janela de uma casa velha na qual eu residia, sem entederem. Não importava. Nada mais importava naquele momento em que eu tentava me concentrar em apenas chorar e entender o sofrimento das pessoas, do mundo. Por que pessoas são obrigadas a se separarem uma das outras quando a existência das mesmas é tão importante? Por que separar o que existe de mais puro e bonito, em todo esse mundo sujo, que é o afeto? Não sei... apenas existe as sepraçaões e somos obrigados a nos conformar com as decisões do acaso. Sentia que minha hora estava chegando e que não saberia como reagir à separação de minha família e amigos.
Somos tão frágeis e ofensivos ao mesmo tempo. Criamos mundos em que nos tornamos tão dependentes ao ponto de ficarmos perdidos quando os pilares principais desses mundos se rompem. Tudo se perde, se esvai e nada mais resta do que lembranças, possibilidades de finais felizes e um espaço apocalíptico em que somos obrigados a viver, um local empapado de tristeza, dor e saudades eternas de um tempo passado em que éramos felizes.
Sentia que não estava bem ao acordar pela manhã, afinal... como poderia estar? Os meus despertares para o mundo estavam mais constantes a cada dia, seja em função do desequilibrio hormonal ou não eu podia sentir isso de forma evidente no meu dia-a-dia, nos meus atos, nas minhas companhias... na minha vida. Precisava continuar e continuei, fiz metodicamente tudo que estipulei... como por exemplo escovar os dentes obrigatoriamente antes de ir pra escola ou até mesmo acordar. Não desejava, não tinha vontades, tudo se fechava num círculo de desespero e eu não reagia, não queria.
Ao chegar na minha escola deparei com a pessoa que mais havia se mostrado amiga nos últimos tempos. Ela veio me saudar:
_ Ei! Bom dia!
_ Bom dia, Juliana!
Caminhamos até a nossa sala e a aula ocorreu de forma agradável, estava gostando da escola novamente... era uma opção da qual eu gostava de ter escolhido pra minha vida, embora eu não estivesse com uma atenção considerável para ela. A aula seguinte seria de Matemática, já estava adiantado na matéria então decidi pensar no que seria bom pra mim indo pra casa.
Voltando pra minha casa vi um terreno florido com flores e vegetação que nunca havia visto, era fabuloso, algo muito lindo que me envolvia numa atmosfera de alegria enorme, então decidi ficar ali por um tempo. Era estranho pois nunca havia visto tal terreno na minha cidade que definitivamente não era nada grande. Permaneci ali por vários minutos que ao meu ver esvaíam em segundos, quando percebi uma árvore envelhecida mas com flores miúdas de várias tonalidades em cada pétala, algo que nunca havia visto. Decidi aproximar-me e percebi que tais flores tinham uma influência sobre mim, porque nunca seria capaz de ferí-las ao ponto de as colher. Sentia-me bem pela primeira vez ao longo de várias semanas, o contato com a natureza nunca me fizera tão bem até aquele instante e ao apoiar-me sobre a árvore as flores foram engolidas pelo solo e um tremor que furtou meu equilíbrio só aumentou. Percebi que a árvore havia criado braços e num abraço nada amigável fui puxado para seu interior adormecendo.
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